ATA DA DÉCIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 14.05.1998.

 


Aos quatorze dias do mês de maio do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a assinalar o transcurso do Dia de Solidariedade ao Estado de Israel e homenagear os cinqüenta anos da independência do Estado de Israel, nos termos do Requerimento nº 25/98 (Processo nº 398/98), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a MESA: os Vereadores Clovis Ilgenfritz e Isaac Ainhorn, respectivamente, 1º e 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, na presidência dos trabalhos; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito de Porto Alegre; o Senhor Yaacov Keinan, Embaixador de Israel; a Senhora Dorit Shavit, Consulesa-Geral de Israel; o Senhor Mário Anspach, Presidente da Federação Israelita, em exercício; o Professor Bóris Wainstein, Presidente do Conselho Geral das Entidades Judaicas; o Senhor Ghedale Saitovich, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul; o Senhor Ricardo Russowsky, Presidente do Sistema Financeiro Estadual, representando o Senhor Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Coronel Irani Siqueira,  representante do Comando Militar do Sul; o Vereador Henrique Fontana, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino de Israel e do Hino Nacional Brasileiro, interpretados pela Fanfarra do Terceiro Regimento de Cavalaria de Guardas, sob a regência do 1º Tenente Ezequiel Português de Souza. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, PFL, PSB e PPS, manifestou sua satisfação por, representando a comunidade porto-alegrense, prestigiar esta solenidade em que se comemoram os cinqüenta anos do Estado de Israel, afirmando que o ano de mil novecentos e quarenta  e oito foi um dos maiores momentos da história da humanidade. O Vereador Eliseu Sabino, em nome da Bancada do PTB, prestou sua homenagem a todos que integram o Estado de Israel, lembrando a participação do Brasil na criação desse Estado e analisando o significado do povo israelense no contexto político e religioso da sociedade atual. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome das Bancadas  do  PPB  e  do PMDB, declarou  que a solidariedade, a liberdade e a dignidade são características do povo judeu, sendo tais virtudes as responsáveis pelas  vitórias  alcançadas  por esse povo durante sua trajetória para criação e desenvolvimento do Estado de Israel. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou, como extensão da Mesa, as presenças do Rabino Mendel Liderov, do Beit Rabad; do Senhor Rubens Narnamovitch, Guia Espiritual da União Israelita; do  Professor Guershon Kwasniewski, líder religioso da SIBRA; do Senhor Yehuda Guitelmaw, Guia Espiritual do Centro Israelita Portoalegrense; o Senhor Salomon Sarnbanot, Razan do Centro Israelita Porto-Alegrense; o Senhor Henrique Feter, Presidente do Centro Israelita Portoalegrense; o Senhor Guedalha Saitoch, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul; o Senhor Nilo Berlin, Presidente da B'Nei B'Rit; do Senhor Antônio Cesar do Nascimento, representante da Liga da Defesa Nacional e da Associação do Batalhão Suez; da Senhora Márcia Friedmann, Diretora do Colégio Israelita;  do Coronel Edmir Mármora, Comandante do Colégio Militar de Porto Alegre; da Senhora Ena Raskin, Presidenta das Senhoras Pioneiras; do Senhor Samuel Schneider Netto, 2º Vice-Presidente da Federação Israelita; da Senhora Sara Toriskavili, Presidenta das Senhoras Witzo; do Senhor Malk Zamel, Presidente do Shira Apleitá. A seguir, o Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, discorreu acerca da criação e consolidação  do  Estado  de Israel, salientando a participação marcante do povo judeu na cultura brasileira. O Vereador Henrique Fontana, em nome da Bancada do PT, declarou sintetizar a comunidade judaica  o anseio pela dignidade que possui todo ser humano, sendo exemplo vivo da luta contra a perseguição e em prol da liberdade. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Vice-Prefeito José Fortunati, que prestou sua homenagem ao povo judeu, destacando a importância da criação do Estado de Israel, como resultado de um movimento de fé, de luta e de perseverança idealizado e concretizado pelo povo judeu. A seguir, o Conjunto Musical "Lechaim" procedeu à execução de músicas da cultura judaica e, após, o Senhor Presidente concedeu  a palavra aos Senhores Mário Anspach e Yaacov  Keinan que, em nome da comunidade judaica, agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou o  Guia Espiritual da Sinagoga União Israelita para encerrar esta Sessão com o Toque de Shofar. Também, convidou os presentes para visitarem, no andar térreo deste Legislativo, exposição de painel intitulado "Metamorfose", criação do artista plástico alemão-israelense Gershon Knispel, relativo às vítimas do holocausto.  Às dezenove horas e sete minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Clovis Ilgenfritz e Isaac Ainhorn e secretariados pelo Vereador Henrique Fontana, Secretário "ad hoc".  Do que eu, Henrique Fontana, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz):  Estão abertos os trabalhos da 13ª  Sessão Solene, que se destina a homenagear o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel e aos 50 anos de sua independência, uma  proposição de autoria do Ver. Isaac Ainhorn.

Para compor a Mesa convido o Sr. Yaacov Keinan, Embaixador de Israel; Sra Dorit Shavit, Consulesa-Geral de Israel; Sr. Mário Anspach, Presidente da Federação de Israelita em exercício; Prof. Bóris Wainstein, Presidente do Conselho Geral das Entidades Judaicas; Dr. Ghedale Saitovich, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul; Sr. Ricardo Russowsky, Presidente do Sistema Financeiro Estadual, representante do Governador do Estado do Rio Grande do Sul; Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; Sr. José Fortunati, Vice-Prefeito de Porto Alegre.

Convidamos a todos os presentes para dar início a homenagem dos 50 Anos de Independência do Estado de Israel e ao Dia de Solidariedade, neste momento, e   ouvirmos o Hino de Israel que será interpretado pela Fanfarra do Terceiro Regimento de Cavalaria de Guardas,  sob a regência do 1º Tenente Exequiel Português de Souza.

 

(Procede-se à execução do Hino de Israel.)

 

Convidamos a todos para de pé cantarmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

(Procede-se à execução do Hino Nacional Brasileiro.)

 

Dando continuidade, concedemos a palavra ao Proponente desta Sessão Solene, nosso colega Ver. Isaac Ainhorn que falará em nome da Bancada do seu Partido - PDT -, e pelas demais Bancadas: PFL. PSB e do PPS.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente em exercício desta Casa, meu caro amigo Ver. Clovis Ilgenfritz da Silva. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores.

Queríamos, nesta oportunidade, por ocasião do cinqüentenário da Independência do Estado de Israel, em primeiro lugar, fazer um registro, Sr. Embaixador, que se liga a uma entrevista que, há poucos momentos, eu dava à Rádio Guaíba,  e indagava-me o repórter por que, anualmente, a Câmara Municipal de Porto Alegre realizava uma Sessão Solene destinada a homenagear a independência do Estado de Israel no dia 14 de maio.

E eu explicava que o Estado de Israel  nasceu da perseverança e da determinação de um povo que, por milênios, perseguiu a busca do seu lar nacional. E, de outro lado, na sua curta existência, ele precisou sempre da solidariedade dos povos e dos países para a sua curta existência de 50 anos, exigiu em muito, nos diversos momentos em que esteve ameaçada a sua própria existência, a solidariedade da sociedade internacional.

Recordo-me que, há pouco mais de um ano, esta Casa realizava aqui, neste plenário, um ato de solidariedade ao Estado de Israel,  em que membros de sua população civil tinham sofrido mais um atentado terrorista na cidade de Jerusalém. E esta Casa se sentia na responsabilidade, também, de integrar e de participar de um ato de solidariedade contrário  à prática de terrorismo.

E aqui gostaríamos, até como  um efeito didático, pela importância desta Sessão Solene em que o Sr. Embaixador do Estado de Israel no Brasil, Sr. Yaacov Reinan, e a Sra. Cônsul-Geral em nosso País, eles aqui comparecem, justamente, no dia em que o Estado de Israel comemora o seu cinqüentenário, exatamente no dia 14 de maio de 1998.

Nesse mesmo dia, 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamava, junto ao parlamento judeu, a independência do Estado de Israel.

E fazemos essa consideração, sobretudo, porque, neste momento, esta Sessão é assistida por gente muito importante que são os jovens de duas Instituições educacionais desta Cidade e deste Estado, o Colégio Israelita Brasileiro e a Escola Militar de Porto Alegre. Eles estão aqui prestigiando e fazendo parte integrante desse processo de homenagem, neste dia, ao Estado de Israel.

Agradecemos essa iniciativa que foi tomada pelo ilustre coronel Marmona, que aqui se faz presente, diretor-comandante da Escola Militar de Porto Alegre. Essa integração nos alegra muito, Sr. Embaixador, é tão importante por alguns fatos que há   pouco tempo, nos deixaram muito entristecidos. E quando esses alunos aqui comparecem, juntamente com o diretor dessa Instituição, muito nos alegra e, sobretudo, quando uma banda componente do Comando Militar Sul, do Sul deste Estado, integra-se a esta solenidade executando o Hatikva, o Hino Nacional de Israel, juntamente com o Hino Nacional do Brasil. Tem toda uma simbologia, os fatos que acontecem, e nos alegram e nos emocionam muito, porque faz parte de um processo muito grande de integração entre esses dois povos.

A singularidade que gostaria de apontar em relação a esta Casa, é  que, talvez, de forma pioneira no Brasil e no mundo, tem alguns fatos que a ligam de forma muito intensa com o Estado de Israel, praticamente desde a sua fundação. Os Vereadores que por aqui passaram, em diversas legislaturas, anualmente prestaram homenagem pelo aniversário do Estado de Israel, no curso de todos esses anos. E a Câmara Municipal de Porto Alegre com muito orgulho detém uma condição muito peculiar e singular no mundo, é uma Câmara que tem junto a este Plenário Otávio Rocha uma placa comemorativa aos 3.000 anos de Jerusalém.  Essa placa refere: “Centro espiritual de três religiões e Capital do Estado de Israel.” E de forma ainda muito forte, além da Lei que instituiu, no ano de 1990, o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, nós temos também, junto à Câmara Municipal de Porto Alegre, ao seu jardim fronteiro, um bosque que leva a denominação de Yitzhak Rabin.  Registramos esses fatos  da tribuna desta Casa pela força que eles têm  em relação a essa integração muito forte e cujo símbolo maior, para nós, Vereadores e legisladores desta Cidade, e representantes do povo de Porto Alegre, é a honra que nos dá, neste momento,  com a sua presença, com a presença do representante do Estado de Israel em nosso País do Sr. Yaacov Keinan. Tenho certeza de que esse fato ficará marcado na história desta cidade, sobretudo pelo marco que representa esses primeiros 50 anos do Estado de Israel. Portanto, essas são as observações básicas que confortam a nossa manifestação, neste momento: a solidariedade permanente do povo brasileiro, do povo rio-grandense, da representação da sociedade porto-alegrense e que tem um outro fato muito importante que cria ligações extremamente fortes nesse processo, que é  o fato de que a histórica Sessão da Organização das Nações Unidas, em  29 de novembro de 1947, criou um Estado Judeu e um Estado Palestino. Essa Sessão foi presidida, e teve um papel decisivo, por um gaúcho, o Embaixador Osvaldo Aranha. Todos esses fatos criam uma situação muito original e muito peculiar desse momento maior que vive a nossa Cidade quando comemoramos os cinqüenta anos do Estado de Israel. Tenho certeza de que os anos passar-se-ão, chegaremos ao 3º milênio, com certeza, com aquela aspiração da consolidação de uma paz definitiva naquela Região. Nós, invocando  às suas palavras, Sr. Embaixador, somos testemunhas de um dos momentos mais importantes da história da humanidade, momentos de muita tristeza, mas de muita alegria, de muita dor, de muitos sofrimentos, mas também de muita felicidade. Infelizmente, foi neste momento, foi neste século, na nossa contemporaneidade, que assistimos a maior tragédia que se abateu sobre um povo, o holocausto, e neste mesmo século, somos espectadores e partícipes do processo de construção de uma nova ordem mundial, onde o Estado de Israel, que perseguiu, por milênios, o seu direito mínimo de existência  sobre um território, em que resta erigido  e reconhecido internacionalmente. Sabemos ainda das dificuldades, dos caminhos árduos que ainda teremos de percorrer. Se fizéssemos uma retrospectiva da história,  diríamos  que este é o momento de profundas mudanças no conhecimento científico, e que elas se operam com uma velocidade extraordinária. Vivemos, quem sabe, um dos momentos mais fulgurantes da história da humanidade. Talvez,  estejamos muito próximos para dizer que seja maior que o período da renascença, e para o povo judeu é tão simbólico, como a libertação do cativeiro da Babilônia, ou mais ainda, a libertação, a saída do Egito. São fatos que marcam e que cuja tradição fazemos  com que  estejam muito vivos na nossa memória e na nossa história. Acredito que vivemos em um momento maior e dentro de 100, 200, 300, 500 ou, quem sabe, 1000 anos, em um momento extraordinário da história da humanidade, estarão falando do nosso momento, da nossa história, 1948, século XX, final do milênio, como um dos momentos maiores da história da humanidade. Queremos registrar nossa alegria, nossa satisfação de estarmos presentes neste momento histórico para Porto Alegre em que se comemoram os  50 anos do Estado de Israel. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  O Ver. Eliseu Sabino está com a palavra. Falará pelo partido do PTB.

 

O SR. ELISEU SABINO: (Saúda os presentes.) Este é um momento muito especial para este Vereador, momento em que usamos a tribuna para manifestar a nossa palavra de homenagem a todos os que fazem parte dessa grandiosa Nação, Israel.

Estamos hoje comemorando, nesta Casa, esse cinqüentenário. É, de fato, uma data de significativa importância.

Este Vereador tem o privilégio de ter a mesma data. O ano de 1948 foi o ano em que eu nasci. Quando pude entender alguma coisa sobre Israel, comecei também a entender que havia  uma afinidade especial desse povo com aquela Nação - por que não dizer? - de todo o mundo com a Nação Israelita.

Desde criança, aprendi os princípios bíblicos, conheci o Velho Testamento, estudando, lendo e acompanhando as histórias de lutas, de batalhas, de derrotas e, muito mais, de conquistas do povo de Israel, porque o povo de Israel teve, por certo, o acompanhamento da proteção divina em toda a sua trajetória. Por isso, hoje, nós não estamos comemorando o cinqüentenário apenas de uma nação qualquer, mas estamos, aqui, com alegria, comemorando o cinqüentenário para aqueles que são israelitas de verdade. Apenas uma data simbólica, porque Israel é uma Nação que permeou a fundação do mundo. Estamos, aqui, simbolicamente comemorando este cinqüentenário. É uma razão legal e estamos felizes por isto.

Na verdade,  ao orador que me antecedeu  manifestamos a nossa palavra de homenagem, pela brilhante iniciativa de pensar em homenagear o Estado de Israel nesta data, Ver. Isaac Ainhorn, nosso companheiro nesta Casa,  um dos israelitas está aqui representando  esse povo por quem este Vereador tem profunda admiração e, também, tem a humildade de dizer que, sem esse povo, o mundo não teria a bênção de Deus.

Brasil e Israel têm muito a ver, tanto no terreno afetivo quanto no terreno político, visto que os cristãos, em todo o mundo, têm constantemente a sua fé, o seu amor voltado a Israel, uma vez que lá nasceu o Salvador do mundo Jesus Cristo.

No campo político, o Brasil teve a sua participação direta, quando, em 1948, o Estado de Israel foi reconhecido como nação e um brasileiro, Osvaldo Aranha, Secretário-Geral da ONU, teve seu voto decisivo para a consumação dessa grande vitória de Israel. No Velho Testamento há muitas passagens e em quase todas é impossível deixar de lado o povo de Israel. No Livro de Números, no cap. 14, registra-se uma passagem, quando Moisés enviou seus 12 espias para espiar a Terra Prometida. Diz a História que 10 retornaram com uma mensagem negativa, com uma mensagem de desânimo, com uma mensagem de tristeza dizendo: “Aquela terra, não vamos poder herdar, não vamos poder chegar lá, porque ela é uma terra cheia de gigantes e há lá um perigo muito grande para esse povo”. No entanto, Josué e Kaleb retornaram com um quadro diferente, retornaram com um quadro inflamado de doçura e abundância, de alegria de um amanhã prazeroso. Disse, a respeito de visão, eram doze que foram ver a Terra Prometida, dez traziam mensagens negativas, dois traziam mensagens otimistas. Hoje, o mundo está voltado para Israel. Todos estão olhando para Israel, as nações estão voltadas para Israel. As visões são distorcidas, há muitas visões, mas é possível que essa terra da qual “emana  leite e mel”, conforme registra o Livro de Números 14:8, não seja um paraíso para muitas pessoas que, muitas vezes, querem transformar esse paraíso em um inferno. Politicamente, esse país não tem uma constituição, mas é regido pelos preceitos de Torá. A Torá e seus mandamentos se tornam uma fortaleza em torno de Israel, que os preserva como um povo através das gerações. Lembram um povo marcado. O povo judeu guarda a Torá, acima de tudo, a Torá guarda o povo judeu. Sua fidelidade á Torá lhes trouxe uma diferença e enormes conseqüências. Não é fácil ser diferente neste mundo e, quando olhamos para Israel, para o povo judeu, marca-se uma diferença. Portanto, o povo judeu tem sofrido mais do que qualquer outro povo conhecido na história , que o  diga  quem conhece a história. Desta maneira, nós entendemos que Israel é um povo santificado por Deus: tem colocado o povo judeu à parte dos outros povos da Terra com o objetivo de usá-lo com um propósito especial.  Essa é a nossa visão. Entendemos que o povo de Israel é especial, é um povo que não obstante o seu sofrimento, não obstante o que tem passado,  é um povo especial,. é um povo abençoado por Deus.

Encerro o meu pronunciamento com um Salmo, registrado no capítulo 122, versículo 6:

“Orai pela paz de Jerusalém; prosperem, prosperem aqueles que te amam, oh! Jerusalém.” Muito  obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Pedro Américo Leal  está com a palavra pelas Bancadas do PPB  e  PMDB.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O quatorze de maio de 1948, em Tel Aviv, é apregoado, por David  Ben Gurion, como o Dia da Criação de Israel. É comemorado, no calendário judáico,  duas semanas antes.

Dois mil anos de peregrinação pelo mundo tornou esse povo, andante mas forte, profundamente solidário, altamente intelectual.  As últimas  demarches, contudo, na data  da sua criação, oscilaram; o auxílio americano, sempre presente, em certo momento  hesitou. A firmeza e o  desassombro de um caudilho do Rio Grande, Osvaldo  Aranha, que presidia a ONU, precipitou a decisão. A longa caminhada milenar em busca da terra prometida, parecia que ia ter fim. E o  que significou para esse povo errante, espalhado pelo mundo, esta data?  A façanha é traduzida por um navio de passageiros, ou de carga, não sei, não consegui vislumbrar, vi em fotografia, o Exodus, descarregando 4.300  judeus, transportados para povoar,  em tumulto,  a nação que surgia. O que viria? Ninguém  sabia. Encerrava-se a espera milenar por  um território, a busca de um chão,  iniciava-se a luta, que se dá até hoje,  do judeu para conservar esta pátria. Obedientes ao Senhor, sob as dez pragas, rumo ao deserto, sob a orientação de Moisés, atravessaram o Mar Vermelho, episódio místico e histórico, sobreviveram séculos, até que  chegaram às cinzas da cremação, onde seis milhões de judeus, quase a população atual do Estado de Israel,  foram eliminados. Nascia o Estado, a Pátria. E o que significam esses 50 anos? Foram fáceis? Desenvolvimento sem contestação?  Ou foram lutas constantes, traduzidas pelas palavras graves, proféticas de Menachen Begin: “As armas hebraicas é que decidirão os assuntos do Estado hebreu. Assim é agora, nesta batalha, e assim será no futuro”. A ajuda de todos os judeus do mundo se fez necessária. A economia prosperava. Respeitado pelas grandes potências, surge a figura de Moshe Dayan, que conquistou - estrategista incrível; eu sou militar - o deserto de Sinai, a faixa de Gaza, Jerusalém oriental e as estratégicas colinas de Golan. Lembro que num jantar, empolgado, como militar discorria sobre essa manobra sublime que possibilitou o comandamento militar de toda a região. Fui surpreendido por um dos presentes que se encontrava ali, entre vários judeus. Disse ele, com voz arrastada: “Senhor, eu combati em Golan. Eu estava lá.” Olhei seu semblante. Não reclamava uma façanha, a sua presença em Golan. Sua voz era embargada pela emoção. Tratava-se de um judeu veterano e moço. Ele tinha estado em Golan! Ele sabia do que eu estava falando! Mais adiante, para consolidar essa fé inquebrantável no estado que surgia, veio a Guerra do Ybbom Kippur, Dia do Perdão, dia solene, em que os judeus guardam respeito e não esperam combate, mas ele veio. Foram atacados, em operação ofensiva das tropas egípcias e sírias, com reforço jordaniano e iraniano. De repente, surgiram. A surpresa nocauteou o exército hebraico. Os judeus vão à lona, sofrem várias derrotas, mas vem a recuperação, numa arrancada fulminante:  as fronteiras de1967 voltam a ser impostas. Outra vez Moshe Dayan! Os judeus, em “Israel, se defendem com uma das mãos, enquanto que com a outra, trabalham e constróem.” - essa frase não é minha. Entre ataques e prontidões eles fizeram de desertos, jardins. Não sei, não vi, mas contam que a estrada que leva à Beerscheva se debruça sobre uma região das mais ricas, onde a renda agrícola por metro quadrado é a maior do mundo. Ali está a universidade do deserto: a Universidade Ben Gurion - não vi; li. Em contraste,  indo de Tel Aviv a Jerusalém, vêm-se as carcaças dos tanques, armas de combate destruídas, rastros de lutas travadas, em constante lembrança de que tudo é conquistado a ferro e fogo. Assim é Israel. “Shalom”, diz o soldado, o cidadão, o homem ou a mulher que, diariamente, sai para o trabalho, prevendo, armado, a constante defensiva. Todos sabem que a luta é constante, desesperada, pela sobrevivência. Eu tenho amigos em Israel. Há que se defender Golan, os campos da Cisjordânia, o túmulo dos patriarcas, mil símbolos históricos que estão por ali, de antepassados que ordenam tenacidade. Também fizeram história. Aí está o passado dessa estranha gente e dessa estranha terra  que absorve até hoje as atenções do mundo, mormente  em Jerusalém, berço de três religiões, como foi dito aqui pelo meu colega Isaac Ainhorn.

“Não! Jerusalém nunca foi capital de nenhum país ou império. O povo judeu nunca teve outra capital. Em Jerusalém nunca haverá acordo”. As palavras não são minhas, não fui eu que as disse, foi o Primeiro Ministro de Israel.

O espírito, a convicção, a posição inabalável deste povo que sabe jogar a última cartada em cada decisão que toma é como o esgrimista que chega ao fim do tapete e sabe que o passo que ele  vai dar será a sua derrota, porque não há mais tapete.

E então, surge a afirmação, convicção em Israel, silenciosa convicção: "Estamos preparados para o melhor, mas se vier o pior, temos uma resposta.” É isso que se diz em Israel.

É o espírito, a disposição deste povo que, sobrevivendo ao holocausto, está preparado para tudo  na manutenção da sua liberdade, da sua dignidade, de ter onde morar, de ter sua pátria.

Os judeus de todo o mundo, presenteou ausentes, perante a luta são solidários com seus antepassados.

Eu já dei minha contribuição para Israel. Em 1960,  com mais homens, preparei a mocidade, não sei se tem algum aqui preparado por mim, para que não atacássemos Anne Frank, O Israelita, e outras posições judaicas, aqui nesta Capital. Minha admiração. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Consideramos como extensão da Mesa o Rabino Mendel Liderov, do Beit Raban; Sr. Rubens Narnamovitch, Guia Espiritual da União Israelita; Prof. Guershon Kwasniewski, Líder Religioso da SIBRA; Sra. Yehuda Guitelmaw, Guia Espiritual do Centro Israelita Porto-alegrense; Sr. Salomon Sarnbanot, Razan do Centro Israelita Porto-alegrense; Dr. Henrique Feter, Presidente do Centro Israelita Porto-alegrense; Dr. Guedalha Saitoch, Presidente da Organização Sionista do Rio Grande do Sul; Sr. Nilo Berlin, Presidente da B’NEI B’RIT; Sr. Antônio Cesar do Nascimento, representante da Liga da Defesa Nacional e da Associação do Batalhão Suez; Sra. Márcia Friedmann, Diretora do Colégio Israelita; Coronel Edmir Mármora, Comandante do Colégio Militar de Porto Alegre; Sra. Ena Raskin, Presidente das Senhoras Pioneiras; Sr. Samuel  Schneider Netto, IIº Vice-Presidente da Federação Israelita; Sra. Sara Toriskavili, Presidente das Senhoras Witzo; Dr. Malk Zamel, Presidente do Shira Apleitá.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Exmo. Sr. Presidente em exercício, Ver. Clovis Ilgenfritz. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores. Na verdade, Sr. Embaixador, Israel quer dizer aquele que lutou contra Deus. Canaã a terra da promissão, conquistada pelos egressos do cativeiro do Egito , há 3. 300 anos foi a sede do primeiro estado hebreu, cuja capital, naquela época e hoje, é Jerusalém. Os filhos de Israel na diáspora posterior à destruição do Templo pelos romanos, referem-se à Palestina antiga como o Ertz  Israel - a Terra de Israel -, em 1948, Medinat Israel passou-se  a denominar  Estado de Israel, cuja nação foi deformada em sua estrutura, por séculos de diáspora de desterritorialização.

Em Jerusalém há  um monte chamado Sion, antigo nome da cidade, e anseio da volta, desde os primeiros sinais desta diáspora, traduzindo, em sua saga, um sentimento de um saudoso regresso: o Sionismo. De volta, de regresso a quê? Se não mais existia Israel física e politicamente. Na verdade, foram os fatores culturais, religiosos e étnicos  que permaneceram, e se alguém duvida que o idioma, uma cultura, um povo sem solo possa constituir-se, possa assegurar-se, possa garantir uma nacionalidade, que perguntem ao povo judeu.

Se, hoje, comemoramos este meio século de gloriosa independência, esta data contém um significado ainda maior: o resgate moral, depois de tanto andar pelo mundo, discriminados, sem serem aceitos apenas por questões religiosas, depois de seculares perseguições, depois de um holocausto desumano, cruel, despótico, radical, e por todos os títulos nos retirando o cognome de espécie sapiens.

Thoedor Herzl, judeu austríaco, jornalista, impactado com o famoso processo Dreyfus, atormentado pelo crescente sentimento anti-semita na Europa do fim do século, fundou a Organização Sionista Mundial, cujos objetivos fundamentais concentraram-se na libertação nacional do povo judeu, através do sonhado  Eretz Israel, refúgio de perseguições e centro de renovação cultural e da  civilização judaica.

Duas declarações suas foram fundamentais: “fundei o Estado Judeu” e “Palestina - terra sem povo, Judeus - gente sem-terra”. Cinqüenta anos após essa declaração, todos vestidos de terno preto, camisas de colarinho sem gravatas, abertas pelo calor do deserto, encimados apenas pela  sua foto, pois sua morte em 1904 o impediu de ver o seu ansiado Eretz Israel pelo qual tanto lutou, a bandeira azul e branca, com a estrela de David, símbolos de uma luta, permitiram, com  um imenso legado histórico a legitimá-lo, a David Ben Gurion ler, às 16h horas do dia 14 de maio de 1948, no Museu de Tel Aviv, a proclamação da Independência, direito histórico de justiça, de liberdade, de paz, princípios pregados por antigos profetas israelitas.

Imediatamente, o Estado de Israel foi reconhecido, diplomaticamente, pelos  Estados Unidos, União Soviética e , oito horas depois, era invadido por inúmeros vizinhos.

Em 11 de junho de 1948, o Conde Folke Bernardotte obtém o cessar fogo e, desde então, a população do novo estado, que era de 700 mil habitantes, passou, até 1970,  para 3 milhões de imigrantes que chegavam à terra dos “Kibutzim” e dos “moshavim”  a se constituírem em bases de comunidades  judaicas, exemplos para o mundo com os seus próprios organismos de direção.

A sucessão de estadistas, quer como presidentes, quer como  primeiros ministros de um Estado Parlamentarista, Bem Ghurios, Levi Skhol, Golda Meir, Shimon Peres, Menachem Begin, Itzaak Rabin, artífices mágicos da integração terra-povo, a água brotou do deserto, a irrigação transformou as areias movediças em terras férteis, agricultáveis, transformou os solos devolutos em verdes campos, onde os excelentes índices de produção, de rentabilidade, mostram, além de um exemplo e inédita experiência para o mundo, a pujança de um povo.

Povo cuja versatilidade notável, rejeitados e perseguidos eram notórios e competentes comerciantes nos estreitos viezes dos entreburgos medievais. Como estado organizado e em pequeno pedaço de terra, torna o deserto produtivo, reflorestam, exploram minérios, constróem tecnologia de ponta, contribuindo para a civilização moderna em todos os setores da atividade humana.

Sua perenidade, seja na África, como os judeus negros da Etiópia, os falashes, que conservam, ainda, palavras do hebraico e conservam o Pentateuco e o seguem (os beita Israel - judeus etíopes), asseguram um continuum cultural para que possamos usufruir de músicas como as de Mendelssohn, de Mehaler, do gênio de Freud, da elasticidade do Tande, da nossa Seleção de Vôlei , de maestros como Leonard Bernstein, de escritores como Moacir Scliar que nos legou uma crônica inesquecível: “A Orelha de Van Gogh”, da maior ternura, da arte maravilhosa de Marc Chagall que nos mostram como se espalha pelo mundo uma cultura que vem da terra, da raiz, que existiu, existe e existirá para sempre.

O Rio Grande do Sul, Sr. Embaixador, abriga, desde o início do século, uma colônia de judeus agricultores, - o que é uma raridade - no interior, uma Cidade chamada hoje de Erebango e ilustres sobrenome judeus que chegaram no início do século ao Rio Grande do Sul, hoje são pessoas da nossa sociedade profundamente integradas e conhecidas do nosso povo.

Porto Alegre abriga no íntimo de suas ruas um bairro famoso, o Bom Fim, protegido por nosso mais lindo Parque, cortado por uma Avenida que tem o nome de um dos fundadores do Estado de Israel, Oswaldo Aranha, por onde nos identificamos com a cultura, com o jeito de ser de um povo, com gosto de chão, de raiz e que fala a língua de todos os sonhos, do maior de todos, o sonho da paz universal. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz ): Solicito ao Ver. Isaac Ainhorn, 2º Vice-Presidente da Casa, que presida os trabalhos uma vez que este Vereador tem um compromisso previamente agendado, num painel sobre o Plano Diretor. Eu serei o painelista, o compromisso é daqui a alguns minutos. Sei que o Vereador faz questão de ficar no Plenário, porque ele é o propositor, mas ele é a autoridade que deve substituir o 1º Vice-Presidente neste momento. Peço desculpas e quero dar um abraço carinhoso e fraterno nos meus amigos e no povo israelense. Peço licença, e passo a Presidência ao Ver. Isaac Ainhorn.

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Está com a palavra o Ver. Henrique Fontana que falará pela Bancada do PT.

 

O SR. HENRIQUE FONTANA: Senhor Presidente e Senhores Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Senhoras e Senhores que visitam a Câmara Municipal para receber essa justa homenagem que esta Câmara faz ao povo Judeu na tarde de hoje. É com muita honra e alegria que ocupo esta tribuna para saudar o povo Judeu em meu nome pessoal e em nome do meu Partido, o Partido dos Trabalhadores. Mais do que com honra e alegria é com convicção política que ocupo esta tribuna, porque me sinto absolutamente contemplado ao acompanhar, estudar e aprender a história de lutas do povo Judeu que ensina aos povos e à humanidade a força da convicção daqueles que sabem o valor da liberdade e da vida. Aqueles que já lutaram e, seguramente, esse povo é o exemplo vivo mais forte que a humanidade tem  daqueles que já lutaram contra a perseguição e contra a possibilidade de manter a sua própria vida. Ao constituir o Estado de Israel, o povo judeu sintetizou, em um momento simbólico de virada de um momento histórico, uma conquista que tem relação com o sentimento mais profundo que qualquer ser humano carrega ao longo de sua vida, que é o sentimento de dignidade. Quando se constituiu esse Estado, seguramente, nós, democratas, homens que lutam pelo direito à dignidade, homens que lutam para garantir que esse valor fundamental das relações humanas tenha cada vez mais espaço na sociedade, comemoramos, porque aquele foi um dia de mudança histórica, em que o sentimento de dignidade foi vencedor e se estabeleceu para  muitas pessoas ao redor do planeta: judeus e não - judeus.

Todos nós torcemos, atuamos, publicamente, e interferimos, na medida das nossas possibilidades, para que essa intrincada e difícil negociação do desafio permanente de constituir a paz definitiva naquela Região,  que respeite o povo judeu e o povo  palestino, desejamos que todos nós recobremos os nossos esforços, neste dia de festa  e de comemoração, para  que aqueles que são, seguramente, a imensa maioria  do lado desses dois povos, e a imensa maioria da humanidade que não fazem parte desses dois povos, mas que têm absoluto interesse por acompanhar essas negociações, porque somos cidadãos do mundo, somos amantes da paz e queremos construir uma humanidade fundada em um alicerce diferente do da guerra e daquele que não respeita a condição humana por si só, independente de raça, credo ou de qualquer outra situação.

Portanto, a nossa força e a nossa torcida para que essa luta consiga ser vitoriosa.

Por último, uma outra palavra que me motiva falar nesta tarde e um parênteses sobre a vida pessoal deste Vereador, e que seguramente tem relação e encontra na mente e no coração de cada um dos judeus que aqui estão certamente já vivenciaram essas situações, que é a luta permanente contra o preconceito. Recordo-me, e os jovens, mais idosos e médios que estão aqui certamente já viveram em muitos momentos, e eu vivi na minha infância, ouvi muitas frases preconceituosas contra o povo judeu. E muitas vezes refleti o que aquilo significava, e ao longo da vida fui aprendendo, como democrata, que todo o preconceito deve ser combatido de forma intransigente porque todos nós devemos ser felizes calcados em cima das nossas convicções pessoais, em cima da nossa raiz histórica, em cima da nossa cultura. Aprendi, ao longo dos anos, e efetivamente construi dentro de mim essa convicção de respeito a esse povo, que hoje represento nesta tribuna em meu nome e em nome do meu partido, o PT, que também tem esse compromisso.

Encerro, cumprimentando o Ver. Isaac Ainhorn que, permanentemente, nesta Casa, defende todas essas questões que procurei rapidamente colocar na minha fala, dizendo que ao longo da minha trajetória de homem público e ao longo da trajetória de meu partido seguramente estaremos sempre prontos para defender o povo judeu em qualquer momento em que  esse povo tenha ameaçado o seu direito, a sua própria organização e o seu direito a viver na plenitude as suas convicções. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Concedo a palavra, neste momento, ao ilustre Vice-Prefeito Dr. José Fortunati.

 

O SR. JOSÉ FORTUNATI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os Componentes da Mesa e demais presentes.) Quero, em nome do Prefeito Raul Pont, trazer um abraço fraterno a todo o povo Judeu.

Sabemos nós o quão importante é a comemoração dos 50 Anos de Israel, certamente, mais importante do que qualquer outra independência ou qualquer outro fato contemporâneo que diga respeito a um país de forma isolada. Israel não representa apenas  a construção de um território, mais do que isso, Israel nos coloca, de forma muito clara, a luta milenar de um povo que foi disperso pelo mundo e que sacramentou a sua luta, a sua organização, a sua perseverança, a sua fé, num Estado, nesse Estado que, hoje, se chama Israel.

Tão importante quanto hoje refletirmos e conclamarmos o Estado de Israel é conclamarmos e refletirmos sobre essa luta histórica, importante, milenar, que o povo judeu tem trazido ao nosso Planeta. Uma luta, sim,  que serve como exemplo de todos aqueles que, no dia-a-dia, no nosso cotidiano, lutam pela paz social, lutam pela justiça social, lutam pela integração entre os povos, lutam, enfim,  pela construção de uma humanidade fraterna, uma humanidade construída em cima de valores humanitários. Eu não tenho dúvida de que, ao relembrarmos  e ao comemorarmos os 50 Anos de Israel, todos nós temos presente que 50 anos é muito pouco perto dos três mil anos de Jerusalém. E é muito pouco perto da luta  que esse povo tem traduzido, no seu cotidiano, para que o nosso mundo, para que o nosso Planeta realmente viva em paz. Vida longa a Israel! Muito obrigado. (Palmas)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Vamos ouvir a apresentação do conjunto musical Lechaim, interpretando músicas da cultura judaica.

 

(É feita a apresentação do conjunto musical Lechaim.)

 

O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a participação tão importante que foi a participação artístico-cultural desse grupo formado por profissionais liberais da comunidade judaica do Rio Grande do Sul. Com a palavra o Dr. Mário Anspach, Presidente em exercício da Federação Israelita do Rio Grande do Sul.

 

O SR. MÁRIO ANSPACH: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Este ato do Legislativo de nossa Cidade, uma tradição desta Casa, tem este ano um significado muito especial: o Estado de Israel completa 50 anos de sua independência. Essa comemoração dos 50 anos do Estado de Israel é única nos anais da humanidade, pois comemora um fato histórico sem precedentes, o retorno e a libertação de um antigo povo exilado, disperso, perseguido e quase aniquilado, de volta à sua terra natal, depois de vagar quase vinte séculos sem pátria, sem defesa e vítima de um contínuo holocausto.

 A vitória da vida contra a morte, da justiça contra a força, do direito contra a injustiça, de poucos contra muitos transforma Yom Hatzmaut - o Dia da Independência -  numa festa universal judaica para todas as gerações. 

“Se o quizerdes,  não será uma lenda” - este pensamento de Theodor Herzl, que foi o grande idealizador do movimento do retorno à  terra prometida, sintetiza a filosofia que necessitava renascer no mais íntimo desse povo, para que o seu sonho milenar - a volta a Sion -  se tornasse uma realidade.

Como Moisés, Herzl não chegou a ver a Terra Prometida, mas, sem nenhuma dúvida, foi um profeta dos tempos modernos. Vivendo num clima de liberdade em Paris, centro dos novos ideais de valorização do ser humano em todos os aspectos, escreveu o livro  “O Estado Judeu”. Nesse pequeno livro  estavam apontados os caminhos para a fundação do que é hoje o Estado de Israel.

Segundo Martin Buber, Herzl foi “o estadista sem estado”.

Mas, no entanto, se Herzl criou uma idéia visionária, Chaim  Weizman soube desempenhar-se, inteligentemente, no complexo organismo que foi o pré-estado de Israel em busca da maturidade. Já Ben Gurion colocou a sua poderosa imaginação histórica para agir nas questões pragmáticas da construção do Estado de Israel.

Mas um outro líder de prestígio universal, contemporâneo de Ben Gurion, iria ter participação decisiva na criação do novo Estado: o Chanceler Osvaldo Aranha.

Esse gaúcho do Alegrete, vindo de uma terra como o nosso querido Rio Grande do Sul, que é uma fonte inesgotável de liberdade, teve a sensibilidade de saber decidir, com sabedoria e coragem naquele momento decisivo para a História  do povo judeu, investido das elevadas responsabilidades de Presidente da  Assembléia- Geral das Nações  Unidas. Este autêntico brasileiro jamais será esquecido.  Aquele povo que, mesmo  havendo enfrentado sofrimento e perseguições, através de séculos, que conservava ainda viva a chama dos  princípios éticos e morais recebidos das mãos  de Moisés,  no monte Sinai, necessitava  voltar  ao ser lar nacional,  terra na qual esses mesmos princípios tiveram a sua nascente,  irradiando-os para toda a humanidade. A História do povo judeu foi sempre marcada por perseguições e sofrimento, o Holocausto,  com a  destruição de  seis milhões de vidas humanas  pela única razão de serem judeus, representou o maior genocídio da História da humanidade. Esperamos que os seis milhões  de judeus exterminados e as dezenas de milhões de outras origens também exterminadas constituam em um alarma capaz de acionar o mundo  democrático a fim de impedir que, com as suas concessões políticas, fortaleça a expansão do fundamentalismo em todos os seus aspectos. A sociedade tem que construir a lembrança para  evitar a repetição do acontecido, não pode haver  justiça com o esquecimento, mas sim com a recordação,  a memória nos  torna mais humanos.  Sabemos bem que ainda os canhões não se calaram e que fanáticos, tanto de um lado como de outro, provocam  empecilhos e perturbações. No entanto, nunca o Estado judeu esteve tão fortemente implantado, tão politicamente estabelecido, tão  culturalmente  atuante e tão cientificamente produtivo. O Estado  de Israel orgulha-se de ser uma nação livre, uma  democracia  baseada nos valores eternos da lei judaica, na igualdade, na justiça, na dignidade humana, na liberdade e na supremacia de lei e dos direitos, sendo fiel aos princípios da Declaração de Independência, princípios estes baseados na sua herança, na visão de paz e justiça de nossos profetas. Finalizando, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, desejo, em nome da federação Israelita do Rio Grande do Sul, órgão representativo da Comunidade Judaica no Estado, agradecer o nobre gesto dos Senhores integrantes desta Casa que, ao acolherem a proposição do ilustre Ver. Isaac Ainhorn, ensejaram a oportunidade desta homenagem que merece o maior respeito de toda a nossa comunidade. Shalom e muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Temos a honra de passar a palavra ao Sr. Embaixador do Estado de Israel no Brasil Sr.Yaacov Keinan.

 

O SR. IAACOV KEINAN:  Ilmo. Sr.Presidente em exercício, desta Câmara, caro amigo Ver. Isaac Ainhorn; Ilmo. Sr. Representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre; minha colega distinguida e amiga Consul-Geral de Israel Sra. Dorit Shvit; Presidente em exercício da Federação de Israel no rio Grande do Sul, Sr. Mário Anspach, prezados componentes da Mesa, Vereadores, eu devo também assinalar com muito apreço a presença do ver. João Dib, cuja sua intervenção, na última vez que estive aqui, eu lembro com muito carinho; autoridades militares e civis, líderes da comunidade, distintos Rabinos, Senhoras, Senhores. É com prazer especial que me encontro de novo aqui nesta Casa, comemorando a data nacional de Israel, correspondente ao cinqüentenário de sua independência. Gostaria de agradecer as emocionantes palavras de homenagem ao meu País e ao nosso povo, que ouvimos hoje aqui.

Não posso esquecer-me das tristes circunstâncias de meu primeiro encontro com vocês, ligando a alegria de saudar e festejar os calorosos vínculos existe entre a Cidade de Porto Alegre e o Estado de Israel, quando do pesar no plantio do Bosque em memória de Yitzhak Radin, de “Abençoada memória”, na área desta Câmara.

Estamos comemorando este ano os impressionantes sucessos alcançados por nosso  jovem Estado, convencidos, apesar das dificuldades do processo em curso, de que vamos conseguir coroá-los em muito pouco tempo, com a realização de nosso sonho de paz.

É uma imensa satisfação constatar sempre, nesta  terra gaúcha, a vitalidade e o conteúdo vivo de amizade do povo brasileiro para com o povo de Israel. Não foi por acaso que um dos importantes parteiros de nossa independência tenha sido o ilustre estadista Oswaldo Aranha, nascido em Alegrete.

Possivelmente o relacionamento especial existente entre os gaúchos e Israel tenha sido alimentado pela consciência e simpatia por um pequeno povo, que longe daqui no Oriente Médio, lutava para assegurar sua  independência, conservando o seu caráter nacional, sua sobrevivência como povo e para estabelecer suas fronteiras estáveis e reconhecidas por seus vizinhos.

Essa luta israelense de cinqüenta anos, se encontra nas últimas etapas.

No fim deste século estamos enfrentando o início de outros problemas, que vão nos influenciar no próximo meio século, mesmo vivendo como esperávamos, em um ambiente de paz e coexistência com nossos vizinhos.

Por detrás das manchetes e reportagens dramáticas da mídia, podemos já vislumbrar o caráter desses problemas, que serão menos ligados à nossa sobrevivência física e mais vinculados à determinação da nossa visão social, cultural e espiritual.

É claro que os valores da democracia e o jogo da livre opinião, que caracterizou sempre a vida comunitária judaica no passado e a vida política israelense no presente, facilitarão a resolução desses nossos futuros problemas.

A infra-estrutura educacional, científica e tecnológica, que constitui a fundação de nosso sucesso econômico, vai continuar fornecendo prosperidade ao nosso futuro.

Os últimos anos testemunharam o fortalecimento da cooperação entre Israel e o Brasil, em geral, e entre Israel e o Estado do Rio Grande do Sul, em particular. Vamos continuar estimulando ainda mais esse processo.

A amizade entre nós, simbolizada por esta cerimônia, é uma das mais importantes garantias de nosso relacionamento, em um mundo cada vez menor.

Gostaria, também, como sempre de agradecer a iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn, amigo fiel do relacionamento entre este Estado e esta Cidade e o Estado de Israel, e que seja sempre forte na continuação dessa obra tão importante para nós todos.

Agradeço pela apresentação artística, tão impressionante, pelo convite e pela oportunidade de compartilhar, mais uma vez, com vocês desta manifestação de cordialidade

Obrigado e um sincero e verdadeiro shalom a todos.

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Para encerrar, solicitamos que V.Sas aguardem  um momento, pois nesta oportunidade, convidamos o Guia Espiritual da Sinagoga União  Israelita que encerrará esta Sessão com o Toque do Shofar.

 

(Procede-se ao Toque do Shofar.)

 

Convidamos a todos os presentes para que no andar térreo,  visitemos um Painel para as vítimas do holocausto, sob o título Metamorfose do Artista Plástico alemão-israelense Gershon Knispel.

Encerramos  a presente Sessão Solene, agradecendo a presença de todos.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h07min.)

 

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